Transformando uma empresa familiar numa empresa do futuro
Transformando uma empresa familiar numa empresa do futuro
Profissionalmente, eu navego em dois mundos com características bem específicas. De um lado, gerencio a empresa que minha mãe fundou há 41 anos, no interior de São Paulo, em um mercado bastante tradicional, que é o de Contabilidade. E de outro, trabalho na capital, com desenvolvimento de pessoas e negócios que buscam se preparar para as tendências de futuro do trabalho, do mercado e da sociedade.
Muitas vezes, esses mundos parecem quase incompatíveis. As coisas, em cada um, acontecem em ritmos diferentes, as pessoas com quem me relaciono são de perfis diferentes, e os interesses também. Por vezes, até opostos. Nem melhor, nem pior. Não há juízo de valor aqui. São apenas diferentes. E isso requer de mim uma grande adaptação, paciência, compreensão e resiliência.
E como esses dois mundos são muito fortes em mim, fiquei refletindo sobre o que escrever. Desenvolvimento humano ou como aumentar seu faturamento? Mudanças no mundo do trabalho ou como pagar menos impostos? A importância de se investir em pessoas ou como tornar a empresa mais eficiente?
Até que, trocando ideia com um amigo querido, fui provocada: por que não escreve sobre como transformar uma empresa familiar numa empresa do futuro?
Quando nos deixamos tomar pelas preocupações e ansiedades do dia a dia, deixamos de ver de forma clara. Essa provocação fez com que eu me desse conta de que o movimento que estou fazendo na Contac é justamente o de integrar e adaptar toda a tradição desses 41 anos às avassaladoras mudanças que o mercado e o mundo têm enfrentado. No ano passado, começamos um grande e desafiador processo de transformação de uma empresa familiar numa empresa do futuro.
INTEGRAR. Esse é o primeiro aprendizado que tiro desse movimento. Entendi que de nada serve trazer minha experiência sem honrar a experiência da minha mãe. Não posso focar exclusivamente em aumentar faturamento e melhorar eficiência sem pensar no desenvolvimento das pessoas e de um bom ambiente de trabalho, porque, afinal, uma coisa não se sustenta sem a outra. Não posso fechar os olhos para os impulsos que as novas gerações trazem e também não posso desconsiderar toda a contribuição que gerações mais antigas têm oferecido à empresa até hoje. Não posso continuar achando que o que fizemos até aqui sempre vai dar certo: o mundo, há apenas 70 anos, era linear, estável e tudo funcionava localmente. Hoje é complexo, incerto e funciona em rede, globalmente. Não podemos levar em conta somente aspectos concretos (números, dados, recursos, processos) sem integrá-los aos mais sutis e intangíveis (relações internas e externas, comunicação, cultura empresarial, valor da marca, pessoas).
Fui entendendo também que, antes de integrar esses aspectos na empresa, integrei-os dentro de mim. Só pude iniciar esse movimento de transformação organizacional quando aceitei que esses dois universos fazem parte da minha vida e que eles são complementares. Enquanto eu os via como coisas diferentes não estava funcionando.
Não importa se sua empresa é familiar ou não, se tem muitos anos ou acabou de nascer, se você é autônomo ou se ainda está pensando em ter o seu negócio. O fato é que você é ou será empreendedor e seu empreendimento é a extensão da forma como você pensa (lê o mundo), sente (interage com o mundo) e age (atua no mundo). E que é muito importante você dar atenção aos aspectos sutis e internos — os seus e os da gestão da sua empresa.
Então, antes de entrarmos em aspectos mais “concretos” sobre empreender, vamos fazer algumas reflexões:
– O que te move a querer ter seu próprio negócio?
– Como você lê o mundo?
– Quais são seus talentos (coisas que você faz muito bem) e paixões (coisas que você ama fazer)?
– Que valores são essenciais para você?
– Como o seu pensar, talentos, paixões e valores podem te ajudar no seu negócio?
– O que você precisa integrar?
Empreender requer um grande compromisso. Empreender em família requer compromisso dobrado. Eu, depois de idas e vindas, muito autoconhecimento e reflexão, por escolha consciente, renovei meus votos com a empresa. Há casos, no entanto, de membros das gerações seguintes que não querem dar continuidade aos negócios da família. E esse assunto dá uma boa história, que fica para outro artigo.
Ana Paula Coscrato dos Santos administradora de Empresas, Gestora e Facilitadora do Impulso Emerge, Cofundadora e Coach pela Eight Coaching, Gestora da Contac Gestão e Contabilidade.
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